É mais uma estreia no
Jazza-me muito... Hoje publicamos a primeira parte do artigo
"O Jazz e Lisboa nos Anos 20", escrito por
António Rubio, crítico de jazz. A segunda parte fica prometida para a próxima 6ªf, 4 de Maio. Boas Leituras!
"Lisboa não escapou aos 'roaring twenties': o jazz invadiu todas as salas de dança, onde as 'jazz-bands' enlouqueciam os dançarinos com os 'charlestons', 'stomps', 'shuffles', 'fox-trots', 'fox-blues'.
A valsa, sobretudo, foi completamente destronada por esta forma de música sincopada e tocada de forma a contagiar o ritmo a toda a gente que a ouvisse.
Mesmo um só piano podia pôr uma festa a pular o 'charleston' ou os pares a flutuar num 'fox' bem marcado.
Apenas o tango sobreviveu, de parceria com a nova música que tinha tido origens em Nova- Orleães.
A cultura social dos anos vinte era a de viver intensamente e gozar tudo o que a vida podia proporcionar, o mais rápido possível. Não esqueçamos que o modernismo e o 'avant-gard', em todas as artes, surgiram também em Portugal, com centro na capital.
Lisboa foi uma verdadeira 'terra de perdição', nessa época de revoluções, de permanentes mudanças de governos e de grandes movimentos artísticos, de homens de letras e artes que ainda hoje não foram esquecidos, pois fizeram a história da arte moderna no nosso país.
A par de todo este movimento artístico desenvolveram-se em Lisboa grandes clubes nocturnos, com jogo, mulheres, grandes banquetes. Neles imperava o jazz da época, selvagem, rouco e ensurdecedor. Todos tinham 'jazz- bands', cantoras e cantores, e a grande maioria exibia 'shows' em palco, com bailarinas e números eróticos.
A maioria estava localizada na Baixa e Avenida da Liberdade mas também existiam noutras áreas da cidade. Os mais importantes eram: o
Bristol Club na Rua Eugénio dos Santos, ao lado da actual sede do Benfica, o
Ritz Clube/Petite Foz no Palácio Foz nos Restauradores (no mesmo palácio também funcionou o
Maxim’s).
Por aquela zona muitos mais existiram: no palacete da família Alverca surgiu um dos mais belos, o
Magestic/Monumental na Rua Tomé de Barros Queiroz, com a sua decoração neo-árabe, que ainda hoje embeleza a Casa do Alentejo, actual ocupante das instalações- o
Olympia, onde hoje é o cinema da Rua dos Condes - o
Clube Mayer/Avenida Parque no Palácio Mayer, na Avenida da Liberdade, hoje Consulado de Espanha –
O Clube Montanha na Rua da Glória – o
Clube Internacional na Rua 1º de Dezembro, o
Regaleira no Palácio Regaleira no Rossio e o
Salão Alhambra no Parque Mayer.
Fora desta zona, já longe da Baixa, encontravam-se o
Clube das Avenidas na Avenida da República, esquina com a Elias Garcia, o
Clube Moderno na Avenida Almirante de Reis e o
Clube Rato na Praça do Brasil.
A vida à volta destes clubes fez história em Lisboa e desenvolveu a cultura desta época em todas as suas vertentes, e a literatura e as artes foram muito influenciadas pelos ambientes modernistas trazidos pela liberdade dos anos vinte.
Nos próprios clubes, a decoração feita com obras de homens como Almada Negreiros e Eduardo Viana era já um espaço para o modernismo, mas os anúncios publicitários dos clubes, com trabalhos de Jorge Barradas, Tom, Bernardo Marques e Stuart, nas revistas
Ilustração Portuguesa,
Ilustração ,
ABC e
Domingo Ilustrado foram um verdadeiro festival de arte e de inspiração destes homens."
António Rubio