O Jazz e Lisboa (anos 20): conclusão
Almada, como artista literário, também retrata, no seu romance Nome de Guerra, a vida de boémia das noites dos clubes de Lisboa. Reynaldo Ferreira, o célebre “Repórter X”, escreve o livro A Virgem Do Bristol Clube e centenas de artigos que envolvem a vida nos clubes com o jogo e a corrupção, não esquecendo as drogas da época: a cocaína e a morfina. As grandes notícias dos jornais eram os assaltos nos próprios clubes ou nas suas imediações por bandos organizados. Mário Domingues escreve em 1929 o romance O Preto do Charleston que reflecte a sua experiência como porteiro do Clube Ritz.
A Companhia de Dança de Louis Douglas apresenta-se, em 1928, no Teatro da Trindade, com a revista Black Follies. Mário Domingues faz uma espantosa entrevista a Louis Douglas, que é publicada na revista Ilustração sob o título A Excentricidade e Comédia no Bailado Negro. O director, bailarino e coreógrafo, explica o que é o espectáculo estilo “jungle”, criado no Cotton Club de Nova-Iorque, no qual se integra completamente a revista trazida ao Trindade. Nesta época já os negros americanos falavam abertamente do racismo que os oprimia e do tipo de espectáculo que faziam, onde os vectores eram sempre a selva de África e a vida nas plantações do Sul dos E.U.A..
O grande escritor Ferreira de Castro escreve em 1923 um excelente artigo na Ilustração Portuguesa sobre A Propagação do Jazz-Band. É um artigo escrito com maestria sobre o fenómeno da época, visto sob o prisma da análise social e ilustrado por excepcionais desenhos de Bernardo Marques.
Independentemente destas actividades, os Clubes eram também locais de grandes banquetes e de festas sociais. O Bristol, o Magestic e o Maxim’s foram os mais procurados para eventos sociais.
Este é um pequeno resumo da história duma época de Lisboa, onde o Jazz e os Clubes eram figura central da cultura e do divertimento, sem deixar de influenciar muito o povo, que apesar de tudo não deixava de amar o seu fado. É desta época o primeiro filme sonoro português, A Severa de Leitão de Barros, que foi um campeão de bilheteira."
António Rubio