"Hospedados num hotel em New Bedford, ficou combinado que, diariamente e a hora estipulada, nos iriam buscar para o almoço.
Como sempre, numa pontualidade britânica, lá estava eu no hall com os empresários, aguardando que a Madalena descesse dos seus aposentos. Esperávamos... esperávamos... E nada. A nosso pedido, a recepção ligava para o quarto da Madalena para saber se demorava muito. Um 'vou já para baixo' vinha como resposta, mas esse já era muito demorado.
(...)
Como era possível que a Madalena, tão pontual nas mais diversas situações, falhasse sistematicamente nestas?, interrogava-me eu.
Um dia perdi a minha paciência de santo e fui directo ao seu quarto para perceber o que a fazia atrasar-se tanto para o almoço. Bati à porta e qual não foi o meu espanto quando a vejo ainda de robe, de pantufas com dois bonitos pompons e de rolos na cabeça, não porque se tivesse levantado tarde, mas porque acabava por se distrair enquanto escrevia para familiares e amigos. Mandou-me entrar e com um sorriso voltou a sentar-se na escrivaninha e, de perna traçada, disse-me:
- Ó António, é só acabar este postalinho.
Passei-me completamente. Fiquei muito zangado e com muita firmeza pus-lhe os pontos no is."
Histórias da Minha História reúne memórias da vida artística de António Calvário, que amanhã conversa com Antonieta Lopes da Costa.
3ªf, 3 de Junho- 10.35