Breves
A história de William Savory e da sua colecção de gravações de jazz da era do swing lê-se como um romance. A notícia foi conhecida há alguns dias: o norte-americano National Jazz Museum, situado no Harlem, Nova Iorque, é agora proprietário da quase mítica série de gravações que o técnico de som William Savory- descendente de imigrantes franceses e Desavouret de seu verdadeiro nome- fez a partir de emissões de rádio nas décadas de 30 e 40. Pianista, saxofonista e técnico de som brilhante, Savory registou, por mero prazer, dezenas de horas de actuações ao vivo de músicos como Coleman Hawkins, Count Basie, Lester Young, Charlie Christian e Billie Holiday, em improvisação, formações pouco habituais ou jam sessions, para além de vários outros músicos menos célebres, dos quais não se conhecia qualquer registo. A história deste legado de cerca de 1000 discos, ouvidos por meia dúzia de eleitos, escolhidos a dedo pelo misterioso Savory, e que se julgava perdido- e a sua recuperação e digitalização, 70 anos mais tarde, às mãos do Museu de Jazz do Harlem, foi contada em detalhe pelo New York Times. A outra boa notícia é que poderá vir a ser editado um disco com algumas destas gravações inéditas, dentro de um ano, através da editora Mosaic, especializada em reedições. Por enquanto, e devido às complexas questões dos direitos de autor, apenas alguns excertos estão disponíveis aqui.
A propósito de reedições e redescobertas, o histórico Bitches Brew de Miles Davis, lançado em Abril de 1970, merece edição para coleccionadores no próximo dia 31 de Agosto. O álbum que Miles gravou com John McLaughlin, Chick Corea, Joe Zawinul, Wayne Shorter, Jack DeJohnette e Dave Holland, está agora disponível numa caixa que inclui dois CD com a gravação original e outros takes, um DVD do concerto que o grupo deu em Copenhaga em Novembro de 1969, depois da gravação mas antes da edição do disco, e um booklet de 48 páginas, entre outros bónus.
A longa digressão que Herbie Hancock tem feito pela Europa e Estados Unidos desde finais de Junho termina com a celebração dos seus 70 anos de idade, que o músico cumpriu em Abril mas festeja no próximo dia 1 de Setembro, em palco, num concerto para o qual convidou Terence Blanchard, India.Arie, Esperanza Spalding, Zakir Hussain, Alex Acuña, Jack DeJohnette e Paulinho da Costa, entre outros, e no qual irá recordar alguns dos seus momentos altos no jazz. O disco mais recente de Hancock, The Imagine Project, defende a ideia de "responsabilidade global", através da linguagem universal que é a música, e reúne colaborações com Dave Matthews, Anoushka Shankar, Wayne Shorter, Chaka Khan, Pink, Seal, Jeff Beck, Toumani Diabaté e Oumou Sangaré. Acima, um momento dos Headhunters de Hancock ao vivo em São Francisco, em 1975.
No próximo Outono chega às salas a longa-metragem de animação Chico Y Rita, um projecto do realizador Fernando Trueba e do desenhador Javier Mariscal. Ambos colaboram na editora Calle 54, criada por Trueba, um apaixonado por jazz que já nos deu o documentário Calle 54, dedicado ao jazz latino (um filme menos conhecido que Belle Époque, que lhe deu o Oscar para melhor filme estrangeiro, em 94). Chico y Rita procede da mesma paixão do realizador pelo jazz e pela música cubana, e decorre em Havana, Nova Iorque, Paris, Las Vegas e Hollywood, entre finais de 40 e princípios de 50. Os amores do pianista Chico e da cantora Rita são o motor de uma narrativa que nos leva a ruas e bares das várias cidades, onde assistimos a concertos com Parker e Gillespie e acompanhamos o célebre percussionista Chano Pozo. A música do filme é composta pelo pianista Bebo Valdés. Uma curta reportagem sobre o filme pode ser vista aqui.