"Detestava quando me chamavam 'Testas'. Era uma alcunha estúpida. Eu nem sequer tinha uma testa grande e a minha cabeça possuía um tamanho perfeitamente normal para um puto de treze anos. Foi o cabrão do César que desencantou aquela história do 'Testas'. Ele e o Renato estavam a jogar ao guelas por trás do banco do jardim onde eu me encontrava sentado a ler A Balada do Mar Salgado do Hugo Pratt. O Corto Maltese era o meu herói da banda desenhada e o Lúcio, o dono do quiosque do jardim, que era amigo do meu pai, deixava-me ler à borla todos os livros que eu quisesse, pois sabia que o dinheiro em minha casa não podia ser 'esbanjado' em literatura. Quanto à minha paixão pelo Corto Maltese, ela era demasiado óbvia: eu chamo-me Maltez. Carlos Maltez!"
Assim começa O Jardim dos Perversos, um romance protagonizado por Carlos Maltez, adolescente apaixonado pelo rock e por Corto Maltese, que frequenta, com o seu grupo de amigos, a escola, os jardins e as ruas de Moscavide, na década de 70. Retrato de juventude, entre a inocência, a crueldade e a delinquência, O Jardim dos Perversos é o primeiro romance de Fernando Duarte Rocha, melómano inveterado e viciado em literatura de viagens. Amanhã Fernando Duarte Rocha conversa com Antonieta Lopes da Costa.
3ªf, 10 de Junho- 10.35