Rádio Blogue: poupança à portuguesa
No regresso do Rádio Blogue, neste início de ano, queremos saber o que pensa das poupanças dos portugueses. Os portugueses não poupam porque não têm dinheiro ou por não terem hábitos de poupança? Não gastar é bom para o país? Não era a despesa que estimulava a economia?
O texto é assinado por Carla Hilário Quevedo e publicado aqui em parceria com o jornal Metro. Deixe o seu comentário, se preferir, através do 21. 351. 05. 90 até às 15h da próxima 5ªf.
Poupança à portuguesa
As notícias sobre a relação instável dos portugueses com a poupança são muito confusas. Por exemplo, em Novembro, os dados do estudo Basef Banca da Marktest indicavam um aumento da percentagem da população que dizia destinar uma parte maior do seu rendimento à poupança. Mas em Dezembro, apenas um mês depois, tínhamos a notícia da confirmação do contrário: a taxa de poupança dos portugueses no último trimestre de 2010 foi a mais baixa dos últimos dois anos. Em que é que ficamos? Talvez no de sempre: quem tem dinheiro, poupa. Quem não tem, não pode poupar por muito que o queira fazer. Mas o problema aumenta quando se contraem dívidas com a expectativa de uma poupança por antecipação. Parece confuso mas a explicação é simples. A compra de produtos a um preço que parece menor quando comparado com o anunciado num futuro próximo é vista como uma oportunidade. Compre mais barato agora o que será mais caro daqui a dias. A corrida às lojas antes de 1 de Janeiro por causa dos saldos e do aumento do IVA é um exemplo desta ideia de poupança por antecipação. Outro é a compra desenfreada de carros antes de o ano acabar. O fim do incentivo ao abate de automóveis em fim de vida, o aumento do Imposto sobre Veículos e o do IVA para 23 por cento foram motivos mais que suficientes para gastar dinheiro. A solução de poupança no fim de ano lembra os descontos espectaculares de sete euros em compras de setenta: só tem de gastar 63… Os portugueses não poupam porque não têm dinheiro ou por não terem hábitos de poupança? Não gastar é bom para o país? Não era a despesa que estimulava a economia?