Rádio Blogue: O Jogo da Morte
Autores do documentário "O Jogo da Morte" e imagem do cenário do programa TV
Em final de semana recuperamos os comentários sobre as touradas e a cultura...
... com Carla Hilário Quevedo e Antonieta Lopes da Costa
6ªf, 19 de Março- 10.35/19.35
Domingo, 21 de Março- 18.35
Ao longo dos próximos dias queremos saber o que pensa sobre o Jogo da Morte. O texto, assinado por Carla Hilário Quevedo, é publicado aqui em parceria com o jornal Metro. Deixe o seu comentário, se preferir, através do 21.351.05.90, até às 16h da próxima 5ªf.
O Jogo da Morte
Christophe Nick é o autor de um documentário controverso, exibido no canal de televisão francês France 2, sobre os limites da televisão. Para demonstrar a tese de que as pessoas são capazes de tudo desde que estejam a ser filmadas, foi realizada uma experiência que terá sido baseada num estudo da Universidade de Yale na década de 60 em que se pretendia apurar se cidadãos aparentemente normais seriam obedientes ao ponto de participar em assassínios em massa. Assim, oitenta pessoas, que desconheciam estar a fazer parte de uma experiência, aceitaram participar num novo «reality-show» intitulado «Le jeu de la mort». O nome do concurso, em português «O jogo da morte», não chegou para dissuadir de imediato os participantes. O falso programa consistia numa série de perguntas e respostas, em que cada resposta errada era punida com uma descarga eléctrica mais ou menos forte. A pessoa que infligia o choque eléctrico ao participante que errava estava na posição daquele que obedecia a uma ordem do apresentador e seguia uma regra do concurso. A hipótese de ser a televisão a responsável pela adesão de 82% dos participantes não me convence. Ao contrário do que Christophe Nick pretende provar, não parece haver uma relação directa entre «estar na televisão» e «dar choque eléctricos a pessoas que respondem erradamente». Quero com isto dizer que a segunda não se segue necessariamente da primeira. Em 1967, o professor de história William Ron Jones quis explicar aos alunos do liceu de Cubberley, na Califórnia, as origens da Alemanha nazi. Em vez de debitar a matéria, resolveu fazer uma experiência. Criou um movimento e levou os alunos a aceitar os princípios básicos que geram um sistema fascista e autocrático. A experiência é assustadora e está documentada no filme alemão «A onda», de Dennis Gansel. Ninguém estava a participar num «reality-show» e quase todos obedeceram. Será, então, mais útil contestar a ideia comum de que as pessoas fazem num programa televisivo o que nunca fariam noutro sítio qualquer. As pessoas são capazes de tudo? Ou são capazes de tudo desde que apareçam na televisão?